Se há cinco anos me perguntassem onde estaria hoje, dificilmente responderia: “a programar soluções tecnológicas para o retalho alimentar”. No entanto, é exatamente aqui que estou — e não mudaria uma única linha deste percurso!
Durante anos, a minha paixão foi a História. Adorava os manuais escolares da disciplina e lia-os antes das aulas começarem. Quando chegou a hora de escolher um curso universitário, a decisão foi clara: História, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
E assim foi. Licenciatura concluída, mestrado iniciado. Mas a vida real bateu à porta com contas, responsabilidades e a necessidade de trabalhar. Entrei no retalho alimentar, num ritmo que muitos conhecem: caixas, cafetaria, padaria, charcutaria, reposição… Foram quase cinco anos a vestir as várias camisolas (literalmente). Vivi na pele a exigência do setor, desde os turnos longos e a pressão constante, até aos desafios trazidos pela pandemia, como filas sem fim e prateleiras vazias.
Foi nesse contexto que nasceu a curiosidade pela programação. A ideia era simples: criar um site. O que parecia um objetivo pequeno rapidamente se tornou numa nova paixão. Comecei com HTML e CSS. Depois veio o JavaScript. Escrevia linhas de código ao fim do dia, exausto mas entusiasmado. Autodidata, aprendi com vídeos, exercícios e muitos erros. Havia incerteza, claro. Afinal, quem contrataria um historiador com experiência de loja?
Decidi arriscar e, para minha surpresa, duas semanas depois surgiu a oportunidade de integrar a equipa da Tlantic. O desafio era gigante. Sprint? Jira? Rollout? Era tudo novo! No entanto, o primeiro projeto em que fui incluído não poderia ter sido melhor: self-checkouts para o retalho alimentar. De repente, tudo fazia sentido. Conhecia os fluxos operacionais, sabia como o POS devia reagir a erros e, acima de tudo, entendia quem estava do outro lado do ecrã.
Mais tarde, acompanhei a implementação dos equipamentos nas primeiras lojas. E ali, de volta a um ambiente tão familiar, percebi que aquele capítulo se fechava de forma simbólica. Já não estava atrás do balcão… Agora ajudava a escrever o software que faz esse balcão funcionar. Mudei de carreira, mas trouxe tudo comigo: o olhar crítico da História, a resiliência do retalho e a vontade constante de aprender. Hoje, cada linha de código que escrevo tem uma história feita de experiências reais, desafios superados e tudo o que aprendi ao longo do caminho!
Joaquim Saraiva, Associate Software Developer